O mais recente Relatório de Cidadania Financeira do Banco Central, de 2021, aponta que 96% dos adultos têm relacionamento com instituições financeiras. Segundo o documento, para cerca de 14 milhões desses brasileiros, esse relacionamento teve início com o Auxílio Emergencial, durante a pandemia de covid-19. A inclusão financeira e a digitalização que marcam os últimos anos do País, em especial os de crise sanitária, trouxeram não só ganhos de escala e eficiência aos pagamentos eletrônicos, mas o desafio de ampliar a educação financeira, possibilitando um acesso mais democrático e consciente aos diferentes públicos.
O cartão de crédito é tema-chave quando se fala de conscientização.
Único instrumento de crédito sem juros disponibilizado essencialmente para o consumo no Brasil, o cartão de crédito é, hoje, o principal meio de financiamento ao consumo, movimentando mais de R$ 2 trilhões ao ano, segundo dados da Abecs, associação que representa o setor de meios eletrônicos de pagamento. Ainda que o pagamento em dia da fatura seja prática entre 90% dos usuários (pesquisa Datafolha) e que 75% do saldo do cartão de crédito não tenha, de acordo com o Banco Central, cobrança de juros ao cliente, o instrumento é, muitas vezes, retratado de forma distorcida quanto ao seu papel no endividamento das famílias.
O tema foi amplamente debatido no Summit Saúde Financeira, no Febraban Tech 2023, de 27 a 29 de junho em São Paulo, que contou com o apoio e a participação da Abecs.
Valor do cartão na sociedade
O painel “Uso consciente do cartão de crédito e educação financeira na era digital” aconteceu com o presidente da Abecs, Giancarlo Greco (CEO da Elo), Raul Moreira (membro do Conselho do Banco Original e da Abecs) e mediação de Sarah Buchwitz, vice-presidente de Marketing e Comunicação da Mastercard Brasil. Os executivos apresentaram dados sobre a participação do cartão de crédito na economia brasileira e a relação da maioria dos usuários com o instrumento.
“Em relação ao ranking dos principais instrumentos de crédito e seu peso no endividamento das famílias, a representatividade do cartão de crédito é de apenas 3,3%”, afirmou Greco, citando dados do Banco Central para o primeiro trimestre de 2023, que mostram que 79% do total de dívidas das famílias vem dos volumes de financiamentos imobiliários, de veículos, crédito consignado e não consignado. Segundo ele, a questão do endividamento deve ser enfrentada em seus aspectos macroeconômicos, “e, para a indústria de pagamentos, o desafio que se apresenta é educar o consumidor para as reais funções do cartão de crédito e o uso consciente desse instrumento”.
Moreira falou sobre o acelerado processo de inclusão financeira que o Brasil tem vivenciado e explicou que nem sempre o acesso a uma conta e a um meio de pagamento vem acompanhado do conhecimento de como usá-los. “Todo instrumento mal utilizado gera efeitos adversos. Como indústria, temos o papel de clarificar qual é o valor do cartão na sociedade. É um instrumento de pagamento, não de empréstimo”, complementa.
Isso significa que ele deve ser usado para fazer um melhor planejamento financeiro, o que inclui funcionalidades como o parcelado sem juros, que viabiliza a compra de itens mais caros, que não caberiam no orçamento familiar se pagos de uma só vez. E o limite do cartão de crédito jamais deve ser usado ou compreendido como uma segunda renda. “O setor tem enfatizado ainda mais essas premissas, a fim de desfazer discursos imprecisos, que reproduzem a ideia de que o cartão é o vilão das finanças”, disse Moreira.
Como o cartão de crédito deve ser usado?
- Pagar sempre a fatura integralmente, na data de vencimento
- No caso de impossibilidade de quitar a fatura, parcelar a dívida em vez de usar o rotativo
- Entender a ferramenta como facilitador do consumo, não um complemento de renda
- Optar por fazer compras à vista ou parceladas de acordo com o orçamento mensal
Educação Multiplataforma
Os setores bancário e de pagamentos têm feito avanços importantes para conscientizar consumidores sobre como lidar com as finanças e os instrumentos de crédito e pagamento. Esse foi o tema do painel “Estratégias adotadas pelas instituições financeiras na promoção de ações de educação financeira” no Summit Saúde Financeira desta edição do Febraban Tech. Carolina Juzwiak, diretora de Comunicação e Inteligência de Mercado da Abecs, participou do debate.
Juzwiak apresentou um panorama das iniciativas promovidas pela Associação desde 2009 a fim de popularizar boas práticas de uso dos cartões de crédito, débito e pré-pagos. Os formatos explorados incluem parcerias com ONGs, cartilhas impressas voltadas ao consumidor e ao varejo, videoaulas e perfis nas redes sociais, como a página Me Conta, que entrega conteúdo didático e descontraído sobre finanças a mais de 660 mil seguidores.
Por Panorama