Nos últimos anos, observou-se um aumento expressivo no volume de consumo de cartões no interior do Brasil em comparação às capitais. A Abecs, associação que representa o setor de meios eletrônicos de pagamento no País, reportou em uma coletiva de imprensa no último dia 10 dados que evidenciam a expansão da força do interior no uso de cartões de crédito, débito e pré-pagos desde 2008.
Nesse período, o percentual de participação das cidades do interior no valor transacionado com meios eletrônicos de pagamento no Brasil era de 44%. Ou seja, as capitais dos Estados brasileiros, sozinhas, eram responsáveis por 56% desse volume.
Com o passar dos anos, o interior ganhou mais força e a relação com as capitais brasileiras se transformou. Nos últimos dados reportados pela Abecs, correspondentes ao primeiro semestre de 2022, o volume transacionado em cartões no interior foi superior ao valor transacionado nas capitais. Enquanto as cidades interioranas movimentaram 60% do total, os grandes centros dos Estados movimentaram 40%.
De acordo com Rogério Panca, presidente da Abecs, “o interior tem mostrado a sua força, no sentido de adotar também o meio eletrônico de pagamento como uma matriz importante para a população efetivar suas compras”.
No cenário atual, as cidades do interior apresentam um “crescimento mais forte que o consumo das capitais”, e essa força é um reflexo de três fatores: a expansão do setor, a inclusão financeira e o maior acesso aos meios digitais pela população localizada longe dos grandes centros.
Processo de interiorização dos cartões
Há 14 anos, a capilaridade dos pagamentos eletrônicos não era tão ampla quanto se observa na atualidade. Por exemplo, era muito mais difícil que estabelecimentos comerciais oferecessem ao consumidor a possibilidade de pagar suas compras com um cartão de crédito, débito ou pré-pago, principalmente no interior. Hoje em dia, a Abecs calcula que já existam cerca de 20 credenciadoras e 11 milhões de maquininhas (POS, do inglês Point of Sale) distribuídas em todos os Estados, tanto nas cidades do interior quanto nas capitais.
No que diz respeito à expansão do setor dentro e fora dos grandes centros, observa-se que os meios eletrônicos de pagamento ganham cada vez mais espaço nos hábitos de consumo das famílias brasileiras.
Dados da Abecs indicam que os pagamentos com cartões estão em ritmo constante de crescimento. Os resultados para o primeiro semestre deste ano configuram uma alta de 36,5% no valor transacionado em comparação com o mesmo período no ano anterior, correspondendo à movimentação de R$ 1,6 trilhão.
De acordo com Panca, os brasileiros têm optado pelos cartões em detrimento de compras com cheques, dinheiro e outros meios porque têm se interessado por soluções específicas que apenas os pagamentos eletrônicos oferecem. São exemplos os parcelamentos sem juros, as compras online e o pagamento por aproximação.
Esse interesse por parte das pessoas reflete em altas interanuais para todas as verticais de pagamento eletrônico, a saber, cartão de crédito, cartão de débito e cartão pré-pago.
Em um comparativo entre os primeiros semestres de 2021 e 2022, foram observados os seguintes percentuais de crescimento: no cartão de crédito, alta de 40,9% nas capitais e de 44,6% no interior; no cartão de débito, alta de 15,4% nas capitais e de 17,2% no interior; no cartão pré-pago, alta de 136,4% nas capitais e de 154,4% no interior. Nessa conjuntura, os índices de crescimento no interior são sempre superiores aos do volume transacionado com cartões nas capitais.
Proeminência do cartão pré-pago
Refletindo sobre os números reportados acima, o presidente da Abecs ressaltou que o cartão pré-pago se destacou com relação aos demais, no que se refere ao crescimento, em razão da adesão consistente dos brasileiros aos serviços de bancos digitais e fintechs.
Algumas dessas empresas não são instituições financeiras, que podem conceder uma conta corrente para seus clientes, mas oferecem contas de pagamento, que entram no contexto de uma conta pré-paga. Há ainda nesse universo os produtos de cartão pré-pago oferecidos pelos bancos, em que o cliente recarrega o cartão de acordo com suas necessidades. Ou seja, o valor pago com o cartão é descontado do saldo da conta.
Soluções como essa estimulam as transações com cartões no País, que no primeiro semestre de 2022 totalizaram 18,7 bilhões em quantidade.