De acordo com o último relatório de estatísticas monetárias e de crédito divulgado pelo Banco Central, referente a maio de 2023, o volume de crédito movimentado pelo rotativo do cartão responde por apenas 2,9% do estoque total de crédito destinado à pessoa física no Brasil. A modalidade registrou saldo de R$ 71,3 bilhões no mês, enquanto a carteira total de dívidas das pessoas físicas ultrapassa R$ 2,4 trilhões.
Segundo o relatório, historicamente as dívidas no rotativo ficam muito abaixo das demais linhas de crédito. O financiamento imobiliário, responsável pela maior fatia do endividamento (39,4%), acumulou saldo de R$ 962,8 bilhões em maio. Ainda acima do rotativo, em ordem de participação, aparecem crédito consignado (25%), aquisição de veículos (10,9%) e crédito não consignado (10,5%). Somados, outros tipos de crédito representam 11,2%.
A baixa representatividade do rotativo no estoque de crédito reflete a maneira como o cartão de crédito é usado no Brasil. Ainda de acordo com o Banco Central, o maior volume movimentado por esse instrumento vem das compras à vista e parceladas sem juros, cujo saldo em maio foi de R$ 370 bilhões. Esse montante representa mais de 73% das compras com cartão e não possui juros, ou seja, é resultado de transações que entram na fatura e são quitadas no prazo de vencimento, sem gerar dívidas.
De acordo com Ricardo de Barros Vieira, vice-presidente executivo da Abecs, associação que representa o setor de meios eletrônicos de pagamento, o cartão de crédito no Brasil se caracteriza como meio de pagamento, não como instrumento de endividamento. “Os dados mostram que o cartão é o principal aliado do brasileiro no acesso ao consumo, mas o rotativo, em geral, só é acionado em situações de emergência financeira”, diz.
Inadimplência sob controle
O índice de inadimplência do cartão, segundo o Banco Central, ficou em 8,7% em maio deste ano, um pouco acima da inadimplência total da pessoa física, que registrou 6,3%. Para Vieira, da Abecs, há uma correlação entre os indicadores. “Independentemente da modalidade de crédito, uma parte dos consumidores, em geral, pode encontrar dificuldade para quitar seu saldo devedor, em razão, por exemplo, de fatores macroeconômicos. O problema não está no cartão em si”, afirma.
Pesquisa realizada há mais de cinco anos pelo Datafolha, a pedido da Abecs, mostra que, em média, em torno de 90% (88%) dos brasileiros pagam o valor integral da sua fatura no prazo de vencimento. “A grande maioria das pessoas paga o cartão em dia, ou seja, não acessa linhas de financiamento, como o rotativo, muito menos fica inadimplente”, reforça Vieira. “Os dados comprovam que o cartão não é o responsável pelo endividamento das famílias. Seu uso pelos brasileiros se tornou sinônimo de segurança, praticidade, inovação e acesso ao consumo, o que não pode ser confundido com endividamento”, conclui.
Por Panorama