Ainda que soe futurista, utilizar somente o rosto para concluir uma compra no checkout de uma loja já é algo possível no varejo brasileiro. Claro que a transação é processada via um instrumento de pagamento – o cartão –, mas a mecânica da transação tem sido simplificada pelos pagamentos biométricos. Com a credencial de pagamento e a biometria facial cadastrada em uma plataforma digital, o consumidor conclui a transação posicionando-se em frente a um terminal de pagamento, que faz a leitura do seu rosto.
A inovação tem sido vista pela indústria de meios eletrônicos de pagamento como uma oportunidade de dar passos importantes rumo à invisibilidade dos pagamentos com cartão, tornando-os tão fluidos e automáticos que sua interferência no cotidiano quase não é sentida. E com a proteção assegurada por todo o arsenal de segurança dos cartões.
“Os métodos de pagamento biométrico representam um passo para o ‘estado ideal’ na autenticação das transações. A aplicação ocorre em conjunto com outras ferramentas de criptografia e autenticação, portanto, não desvalida em nada o processo robusto e seguro das transações eletrônicas. Pelo contrário, facilita, democratiza e cria uma camada a mais de segurança”, diz Rubio Marçal, gerente de Terminais da Ingenico para a América Latina
Novas experiências
É essa combinação de agilidade e segurança que atrai varejistas, principalmente aqueles com operação presencial. Desde 2022, oito lojas da rede de supermercados St. Marche contam com a tecnologia de reconhecimento facial na validação de transações com o cartão. Aos clientes cadastrados, basta posicionar o rosto em frente ao terminal de leitura e pagar pelas compras.
“É uma inovação que tem tudo a ver com a nossa estratégia de negócios: levar praticidade, modernização e novas experiências aos clientes”, explica Bernardo Ouro Preto, CEO da companhia. Na fase piloto de implementação do projeto, sob responsabilidade da Mastercard e da empresa de tecnologia Payface, 90% dos clientes afirmaram ter uma experiência confortável e 76% recomendariam essa forma de pagamento.
A conveniência da autenticação via biometria também chamou a atenção da C&A, que embarcou a solução em mais de 300 lojas espalhadas pelo País. Levi Fonseca, diretor executivo de Serviços Financeiros, Vendas Diretas e Compras da C&A Brasil, comenta o que motivou a adoção da forma de pagamento: “Em um momento em que o consumo é phygital, combinando experiências físicas e digitais, tornar a compra presencial tão rápida quanto no e-commerce é fundamental”.
“O pagamento biométrico proporciona uma melhor experiência de compra com agilidade e fluidez no checkout, e adiciona novas camadas de segurança para o cliente, reduzindo o volume de fraudes transacionais”, afirma Levi Fonseca, da C&A Brasil
US$ 18,6 bilhões até 2026
Embora o uso da biometria na autenticação de pagamentos com cartões seja, neste momento, exclusividade de grandes empresas com capital para investir em tecnologia e inovação, o mercado de pagamentos deve experimentar um boom de soluções em biometria nos próximos anos.
No estudo “O futuro dos pagamentos”, realizado pela Mastercard em 2023 com dados globais de mercado, estima-se que as transações biométricas devem ter uma taxa composta de crescimento anual de 62% entre 2022 e 2030, movimentando US$ 18,6 bilhões até 2026. Os dados estão em linha com a tendência observada em 2022 no estudo “Mastercard New Payments Index 2022”, em que:
- 62% dos entrevistados afirmaram já ter usado a biometria para validar pagamentos;
- 64% concordaram que, em comparação com o pagamento no cartão físico ou via dispositivo, a autenticação biométrica é mais fácil;
- dois terços consideram a biometria mais segura do que a autenticação de dois fatores.
No Brasil, a adoção deve ser ainda mais acelerada, já que se trata de uma forma de autenticação que caiu no gosto da população. Segundo dados da Visa, 90% dos brasileiros acham a alternativa mais prática do que usar as senhas alfanuméricas e, a cada dez pessoas, seis já usam a biometria de alguma maneira.
Autenticação extra
Além de ser utilizada diretamente no checkout em uma jornada de compra, a biometria também é empregada no varejo como uma camada extra de segurança contra fraudes. Entre os casos de uso observados está a implementação da autenticação biométrica online na loja virtual da Riachuelo, realizada pelo gateway de pagamento da Visa, a Cybersource, em parceria com a Unico.
O recurso é empregado pela varejista na aprovação de transações de mais alto risco. Antes da validação, o comprador recebe um link para passar pelo reconhecimento facial; somente se a imagem captada for compatível com um CPF vinculado à base de dados da empresa, a transação será liberada.
Segundo a Visa, resultados da fase de testes da solução, aplicada no fim de 2022, apontam um aumento de 15% na aprovação de transações de alto risco na Riachuelo. Simone Sisdelli, superintendente de Prevenção a Fraudes da varejista, confirma a eficácia da solução, que garantiu uma menor perda de negócios para a companhia:
“O reconhecimento facial é prático, altamente eficaz, e dá aos consumidores mais segurança na hora de realizar o pagamento de sua compra. Outro ponto positivo é a redução do tempo de aprovação da análise de pagamento, que antes poderia demorar horas e, com esse processo, é feito em alguns minutos”, diz Simone Sisdelli, da Riachuelo
Por Panorama